O fundador da Rede P. B. Lopes, Pedro Barboza Lopes, sempre foi um grande contador de histórias e suas memórias serão perpetuadas, em breve, em um livro. Enquanto não fica pronto, veja mais este capítulo onde ele demonstra o grande orgulho e repeito pelo pai, José Lopez Lopez. Ainda jovem, ao concluir os estudos em São Paulo, seu Pedro volta a Londrina para trabalhar na empresa Irmãos Lopes.
Aprecie a leitura!
Quero trabalhar
Finalmente em 1962, concluí o curso de Química Industrial no Mackenzie. De um início medíocre, tornei-me um bom aluno na fase final da graduação. A vontade de voltar para Londrina era tanta que não fui à cerimônia de formatura, tampouco peguei o diploma. Fui resgatar o documento há alguns anos, quando estive em São Paulo.
Minha mãe e irmãos permaneceram na capital, mas papai estava em Londrina tocando os negócios. No dia 12 de dezembro de 1962, aos 23 anos, me arrumei e fui falar com ele.
– Papai, como o senhor sabe eu acabei de concluir o meu curso e vim me apresentar. Eu quero trabalhar!
– Mas trabalhar onde? – perguntou.
– Quero trabalhar com o senhor. Papai, eu quero crescer e quero ganhar dinheiro! E eu só deixarei de trabalhar se o senhor me mandar embora. Caso contrário, jamais o deixarei.
– Você está falando sério?
– Sim, o senhor vai ver um camarada que quer vencer na vida. Quero mostrar isso trabalhando aqui.
Calmamente, como era o seu jeito, disse:
– Está bem. Espere alguns dias.
Eu vivi as dificuldades de uma infância desprovida de recursos e entendi, desde cedo, que o trabalho resulta em prosperidade para aquele que luta dia a dia. E eu queria fazer isso ao lado de meu pai, um trabalhador incansável.
Conforme combinado, dias depois papai me chamou. Quando cheguei em sua sala, Tio Anselmo, que gerenciava a empresa estava presente.
– Anselmo – disse papai –, a partir de hoje, o gerente dessa empresa será o Pedro.
– Mas como? O Pedro é só um menino!
Tentou argumentar, mas foi vencido. Tio Anselmo, um homem alto e forte, olhou para mim e disse:
– Pedrinho, quero só ver o que é que você vai fazer! – provocou.
– Olha tio, em toda a minha vida, ninguém me incentivou tanto quanto o senhor nesse momento, com esse desafio. O senhor verá!
Papai estava dando uma oportunidade de trabalho e eu a agarrei com unhas e dentes. Nos dias posteriores, Tio Anselmo foi me passando as informações de como era o funcionamento da Irmãos Lopes. A ferroada do Tio Anselmo foi um estímulo para mim. Eu pensava: “Tenho que causar impacto”.
Fui até uma conhecida loja na Avenida Paraná em frente à Praça Marechal Floriano Peixoto e comprei três cortes de tecidos: um azul-marinho, um marrom café e um cinza chumbo. Levei tudo na Alfaiataria Dutra e mandei fazer três ternos. Comprei camisas de colarinho e várias gravatas.
No meu primeiro dia de trabalho na Irmãos Lopes me apresentei de terno e gravata. Trabalhava assim todos os dias. De cara, senti falta de uma mesa para atender a clientela. A loja era instalada em um showroom onde ficavam os caminhões Mercedes e os eletrodomésticos que comercializávamos. No mezanino, o espaço era para a sala de papai, o departamento contábil e o vice-consulado.
Não tive dúvida. Peguei uma mesa, uma cadeira, duas poltronas, um sofá e coloquei tudo bem no centro da loja. Quando um cliente chegava na Irmãos Lopes, o primeiro contato era comigo. E assim, fui com a cara e a coragem fazer os atendimentos.
Passava o dia atendendo clientes e depois das seis, quando baixávamos as portas da Irmãos Lopes, eu começava outro serviço: a entrega e instalação dos produtos vendidos.
Meu companheiro de entrega era o Guido Hansen, funcionário muito dedicado, que trabalhou conosco por 40 anos, até se aposentar. Eu tirava o terno e colocava um macacão.
Carregávamos toda a venda do dia na “Catarina”, uma pick-up Willis 1951, que quase arrastava a traseira de tão pesada, e saíamos pela cidade entregando tudo: televisores, fogões, geladeiras, eletrodomésticos, lavadora de roupa Maria... era muita coisa.
Chegava a ser engraçado: de dia eu atendia o cliente de terno e gravata; e à noite, o mesmo cliente me recebia em sua casa, mas desta vez, com um surrado macacão para entregar ou instalar o produto.
Quando a entrega era de televisor, tínhamos que instalar a antena. Passávamos a fiação até o telhado, fixávamos o suporte, e depois tapávamos tudo com reboco. Ao ligar o televisor no canal 3, as imagens da recém-inaugurada TV Coroados apareciam, para a alegria dos donos da casa.
A satisfação era tanta que o proprietário servia uísque Drury’s, guardado caprichosamente na geladeira. Era uma forma de agradecer pelo atendimento, então a gente tinha que dar uma bicada.
A TV Coroados foi a primeira emissora do interior do Brasil, fundada por Assis Chateaubriand, jornalista, empresário, político, uma figura pública de grande influência no país. A emissora tinha diversos programas locais, apresentados por locutores conhecidos do rádio.
O Antonio Euclides Sapia, diretor artístico da emissora, estava formatando um programa novo e nós resolvemos fechar o patrocínio. E assim, toda semana entrava no ar, em horário nobre, o programa “Irmãos Lopes comanda o espetáculo”.
Era uma gincana com diversas provas a serem cumpridas e quem as completava acumulava pontos e classificava-se para a etapa seguinte. Os vencedores ganhavam prêmios em dinheiro. Uma ganhadora chegou a fazer uma viagem para a Inglaterra paga pelo programa.
“Irmãos Lopes comanda espetáculo” vingou e tinha uma audiência elevadíssima. Durante a apresentação, promovíamos a divulgação dos produtos da Irmãos Lopes. Eu levava diversos eletrodomésticos e montava tudo no cenário do programa.
Antonio Euclides Sapia era um sujeito vibrante e muito talentoso. Era radialista da Rádio Pan-Americana de São Paulo, conhecido nacionalmente pelos jogos esportivos que narrava e veio para Londrina para assumir a direção da TV. No meio do programa, ele me chamava e eu participava, sem ensaio, no maior improviso.
Os maiores concorrentes da Irmãos Lopes na área dos eletrodomésticos eram a Hermes Macedo e a Motosima, loja comercial localizada na Rua Sergipe e que tinha como gerente o Jorge Kayamori, um bom comerciante, que também era partícipe da empresa.
Mesmo com a forte concorrência, o que pesava na conquista do cliente era uma palavrinha mágica que cito até hoje: o atendimento. Diferenciais como uma boa assistência técnica, a agradabilidade, ser gentil... O sujeito tinha que ser “o vendedor”.
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